Guerra

EUA bombardeiam Irão

22 de junho 2025 - 8:33

Depois de ter ameaçado o Irão de fortes represálias se atacasse algum alvo norte-americano e tentar impor internamente a sua narrativa sobre armas nucleares, Trump lançou ataque a instalações nucleares não militares. Democratas dizem que não foram ouvidos, tendo-se violado a constituição. Guterres condena "ameaça direta" à paz e segurança. Mariana Mortágua diz que "plano de Trump e Netanyahu para dominarem o Médio Oriente é ilegal e terá consequências terríveis no mundo".

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Trump na reunião de emergência sobre os ataques.
Trump na reunião de emergência sobre os ataques. Foto da Casa Branca.

Os EUA lançaram esta madrugada um ataque não provocado ao Irão, atingindo várias instalações nucleares do país, nomeadamente Fordow, Natanz e Isfahan.

Donald Trump, numa declaração ao país, garantiu tratar-se de um "sucesso militar espectacular" e que estas foram "totalmente e completamente obliteradas", confirmando ainda que o objetivo tinha sido "a destruição do dispositivo de enriquecimento nuclear iraniano".

O presidente dos EUA ameaçou mais ataques dizendo: "lembrem-se, ainda há muitos alvos a faltar". Antes, na sua rede social, tinha já escrito que qualquer retaliação do Irão iria ser respondida com "uma força bem maior do que assistimos esta noite."

Apesar das juras de "obliteração", a Agência de Energia Atómica Internacional garante que não há nenhum aumento de radiação nos arredores destas, anunciando que continuaria a monitorizar a situação.

O governo iraniano confirma o ataque, destacando que viola o direito internacional e foi feito contra instalações "pacíficas". Num primeiro momento,  Seyed Abbas Araghchi, ministro dos Negócios Exteriores, publicou nas suas redes sociais que o bombardeamento terá "consequências permanentes".

Num momento posterior, numa declaração do seu ministério, o governo insistia em tratar-se de uma violação das leis internacionais, uma "agressão" a que o país tem o direito de resistência.

Na declaração pode ainda ler-se que "o mundo não se pode esquecer que foram os Estados Unidos que, no meio de um processo diplomático, traíram a diplomacia", lançando uma "guerra perigosa contra o Irão".

Invocou ainda o direito de defender a segurança e interesses nacionais do seu país contra uns EUA que "não aderem a nenhumas regras ou ética" em apoio a um "regime genocida e de ocupação".

O primeiro-ministro israelita, por sua vez, assegurou ter havido "total coordenação" com os EUA nestes ataques. Para ele, o que se passou foi uma continuação "com maior intensidade e com maior força" dos ataques que o seu país já vinha levando a cabo. O faria com que Trump estivesse a "liderar o mundo livre [sic] com força", sendo por isso um "amigo como nenhum" de Israel.

Democratas criticam ataque

Entretanto, na frente da política interna dos EUA, muitos responsáveis políticos democratas dizem que o seu partido não foi ouvido nem notificado previamente acerca dos ataques e há quem fale numa violação da constituição do país.

O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, apelou a um debate "imediato" sobre o que se está a passar. Afirmou que o presidente deve dar aos órgãos políticos e ao povo "respostas claras" sobre as ações e as suas "implicações para a segurança dos americanos". E que "nenhum presidente deve poder levar unilateralmente esta nação a algo tão importante como uma guerra com ameaças erráticas e sem estratégia".
O dirigente democrata repete, contudo, a retórica agressiva para com o Irão, só que pensa que "confrontar a campanha impiedosa de terror do Irão, as ambições nucleares e a agressão regional exige força, determinação e clareza estratégica", insistindo que "o perigo de uma guerra mais alargada, mais longa e mais devastadora aumentou agora dramaticamente".

Muitos outros dos seus pares democratas alinham pelo mesmo diapasão. Mas as palavras mais duras chegaram imediatamente de Alexandria Ocasio-Cortez que levantou uma hipótese diferente das queixas e exigências de serem ouvidos da direção democrata. A eleita por Nova Iorque defendeu a destituição de Trump, considerando "a desastrosa decisão do presidente de bombardead o Irão aem autorização é uma grave violação da Constituição e dos poderes do Congresso sobre a guerra". Esta pode pesar no país por gerações e isso é "base absoluta e clara para destituição".

Guterres: "uma ameaça direta à paz internacional e à segurança"
O secretário-geral da ONU reagiu classificando os ataques norte-americanos como "uma escalada perigos numa região já à beira do precípicio e uma ameaça direta à paz internacional e à segurança".
Na sua declaração, vincou que há "um risco crescente de que este conflito possa ficar rapidamente fora de controlo, com consequências catastróficas para os civis, a região e o mundo."

"Nesta hora de perigo, é fundamental evitar uma espiral de caos. Não há solução militar. O único caminho para avançar é a diplomacia. A única esperança é a paz", concluiu.

Ataques sionistas e contra-ataques iranianos continuam

Já depois destes bombardeamentos, Israel lançou uma nova vaga de ataques com mísseis, desta vez à zona ocidental do Irão. A Força Área sionista reivindicou ainda ataques a mais quadros militares iranianos e lançadores de mísseis.

O Irão também lançou mísseis que, de acordo ainda com os israelitas, atingiram dez pontos do seu país e fizeram 14 feridos, a maioria sem qualquer gravidade.

Desde os primeiros bombardeamentos israelitas ao Irão, a 13 de junho, de acordo com as autoridades deste país, os ataques sionistas mataram mais de 400 pessoas e feriram pelo menos 3.056. Do outro lado, Israel comunicou 24 mortes.

Mariana Mortágua: "Portugal deve condenar e impedir utilização das bases norte americanas em solo nacional"

Num reação aos ataques nas suas redes sociais, a coordenadora do Bloco de Esquerda escreveu que "já conhecemos outras guerras preventivas, baseadas em ameaças inventadas".

Para Mariana Mortágua, "o plano de Trump e Netanyahu para dominarem o Médio Oriente é ilegal e terá consequências terríveis no mundo". Assim, "Portugal deve condená-lo e impedir a utilização das bases norte americanas em solo nacional".

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