Os EUA lançaram esta madrugada um ataque não provocado ao Irão, atingindo várias instalações nucleares do país, nomeadamente Fordow, Natanz e Isfahan.
Donald Trump, numa declaração ao país, garantiu tratar-se de um "sucesso militar espectacular" e que estas foram "totalmente e completamente obliteradas", confirmando ainda que o objetivo tinha sido "a destruição do dispositivo de enriquecimento nuclear iraniano".
O presidente dos EUA ameaçou mais ataques dizendo: "lembrem-se, ainda há muitos alvos a faltar". Antes, na sua rede social, tinha já escrito que qualquer retaliação do Irão iria ser respondida com "uma força bem maior do que assistimos esta noite."
Apesar das juras de "obliteração", a Agência de Energia Atómica Internacional garante que não há nenhum aumento de radiação nos arredores destas, anunciando que continuaria a monitorizar a situação.
O governo iraniano confirma o ataque, destacando que viola o direito internacional e foi feito contra instalações "pacíficas". Num primeiro momento, Seyed Abbas Araghchi, ministro dos Negócios Exteriores, publicou nas suas redes sociais que o bombardeamento terá "consequências permanentes".
Num momento posterior, numa declaração do seu ministério, o governo insistia em tratar-se de uma violação das leis internacionais, uma "agressão" a que o país tem o direito de resistência.
Na declaração pode ainda ler-se que "o mundo não se pode esquecer que foram os Estados Unidos que, no meio de um processo diplomático, traíram a diplomacia", lançando uma "guerra perigosa contra o Irão".
Invocou ainda o direito de defender a segurança e interesses nacionais do seu país contra uns EUA que "não aderem a nenhumas regras ou ética" em apoio a um "regime genocida e de ocupação".
O primeiro-ministro israelita, por sua vez, assegurou ter havido "total coordenação" com os EUA nestes ataques. Para ele, o que se passou foi uma continuação "com maior intensidade e com maior força" dos ataques que o seu país já vinha levando a cabo. O faria com que Trump estivesse a "liderar o mundo livre [sic] com força", sendo por isso um "amigo como nenhum" de Israel.
Democratas criticam ataque
Entretanto, na frente da política interna dos EUA, muitos responsáveis políticos democratas dizem que o seu partido não foi ouvido nem notificado previamente acerca dos ataques e há quem fale numa violação da constituição do país.
O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, apelou a um debate "imediato" sobre o que se está a passar. Afirmou que o presidente deve dar aos órgãos políticos e ao povo "respostas claras" sobre as ações e as suas "implicações para a segurança dos americanos". E que "nenhum presidente deve poder levar unilateralmente esta nação a algo tão importante como uma guerra com ameaças erráticas e sem estratégia".
O dirigente democrata repete, contudo, a retórica agressiva para com o Irão, só que pensa que "confrontar a campanha impiedosa de terror do Irão, as ambições nucleares e a agressão regional exige força, determinação e clareza estratégica", insistindo que "o perigo de uma guerra mais alargada, mais longa e mais devastadora aumentou agora dramaticamente".
Muitos outros dos seus pares democratas alinham pelo mesmo diapasão. Mas as palavras mais duras chegaram imediatamente de Alexandria Ocasio-Cortez que levantou uma hipótese diferente das queixas e exigências de serem ouvidos da direção democrata. A eleita por Nova Iorque defendeu a destituição de Trump, considerando "a desastrosa decisão do presidente de bombardead o Irão aem autorização é uma grave violação da Constituição e dos poderes do Congresso sobre a guerra". Esta pode pesar no país por gerações e isso é "base absoluta e clara para destituição".
Guterres: "uma ameaça direta à paz internacional e à segurança"
O secretário-geral da ONU reagiu classificando os ataques norte-americanos como "uma escalada perigos numa região já à beira do precípicio e uma ameaça direta à paz internacional e à segurança".
Na sua declaração, vincou que há "um risco crescente de que este conflito possa ficar rapidamente fora de controlo, com consequências catastróficas para os civis, a região e o mundo."
"Nesta hora de perigo, é fundamental evitar uma espiral de caos. Não há solução militar. O único caminho para avançar é a diplomacia. A única esperança é a paz", concluiu.
Ataques sionistas e contra-ataques iranianos continuam
Já depois destes bombardeamentos, Israel lançou uma nova vaga de ataques com mísseis, desta vez à zona ocidental do Irão. A Força Área sionista reivindicou ainda ataques a mais quadros militares iranianos e lançadores de mísseis.
O Irão também lançou mísseis que, de acordo ainda com os israelitas, atingiram dez pontos do seu país e fizeram 14 feridos, a maioria sem qualquer gravidade.
Desde os primeiros bombardeamentos israelitas ao Irão, a 13 de junho, de acordo com as autoridades deste país, os ataques sionistas mataram mais de 400 pessoas e feriram pelo menos 3.056. Do outro lado, Israel comunicou 24 mortes.
Mariana Mortágua: "Portugal deve condenar e impedir utilização das bases norte americanas em solo nacional"
Num reação aos ataques nas suas redes sociais, a coordenadora do Bloco de Esquerda escreveu que "já conhecemos outras guerras preventivas, baseadas em ameaças inventadas".
Para Mariana Mortágua, "o plano de Trump e Netanyahu para dominarem o Médio Oriente é ilegal e terá consequências terríveis no mundo". Assim, "Portugal deve condená-lo e impedir a utilização das bases norte americanas em solo nacional".
Já conhecemos outras guerras preventivas, baseadas em ameaças inventadas. O plano de Trump e Netanyahu para dominarem o Médio Oriente é ilegal e terá consequências terríveis no mundo. Portugal deve condena-lo e impedir a utilização das bases norte americanas em solo nacional.
— mariana mortágua (@MRMortagua) June 22, 2025