Foi com grande preocupação que assisti à abordagem da flotilha humanitária, e soube da detenção dos ativistas portugueses.
Tranquilizou-me ouvir o ministro dos negócios estrangeiros, Paulo Rangel, a garantir que o governo tudo iria fazer para que os portugueses fossem libertados e repatriados o mais depressa possível. Esta declaração foi, porém, logo contrariada pelo ministro da Defesa, Nuno Melo que acusou os ativistas de serem apoiantes de terroristas.
A acusação de Nuno Melo, de enorme gravidade e irresponsabilidade, parece ignorar o perigo que os ativistas correm – e que foi bem ilustrado pelo tratamento degradante que o ministro da Segurança Nacional de Israel, Ben-Gvir, lhes deu, filmando-os ajoelhados e chamando-lhes terroristas e apoiantes de assassinos.
Ben-Gvir tem a tutela do sistema prisional israelita. A forma como tratou aqueles que neste momento são, ilegalmente, prisioneiros de Israel deve fazer-nos temer pelo que pode suceder.
Acresce que a deputada eleita Mariana Mortágua enviou, através da representação diplomática portuguesa em Israel, uma mensagem à família, na qual se queixa de que ela e os outros ativistas foram mantidos sem comida e água durante 48 horas e estão a ser maltratados.
São factos que devem merecer a todos os democratas portugueses, que prezem a liberdade de expressão e manifestação, o Estado de direito e os valores humanistas, o mais vivo repúdio. E que exigem do Governo português, como da União Europeia, um protesto formal junto de Israel, além de ação eficaz para imediata libertação e repatriamento dos detidos.
É incompreensível o silêncio do atual Presidente da Assembleia da República perante a situação em que estão os cidadãos nacionais, nomeadamente uma deputada eleita pelos portugueses.
Eduardo Ferro Rodrigues