Gaza

Inquérito da ONU confirma genocídio, Israel avança com tanques na Cidade de Gaza

16 de setembro 2025 - 11:57

Depois de intensos ataques aéreos, o exército israelita avança na sua ofensiva para ocupar a Cidade de Gaza no mesmo dia em que a comissão de inquérito da ONU diz que “a intenção genocida era a única conclusão razoável que se podia extrair da totalidade das provas” de que dispõe.

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Resultado de um ataque aéreo em Gaza.
Resultado de um ataque aéreo em Gaza. Foto de MOHAMMED SABER/EPA.

A Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre os Territórios Palestinianos Ocupados confirma que Israel está a cometer genocídio em Gaza. Navi Pillay, a ex-juíza do Tribunal Penal Internacional que a dirigiu, foi taxativa na apresentação do relatório: “está a ocorrer genocídio em Gaza”, acrescentando que “a responsabilidade por estes crimes de atrocidade recai sobre as autoridades israelitas ao mais alto nível, que têm orquestrado uma campanha genocida há quase dois anos, com a intenção específica de destruir o grupo palestiniano em Gaza.”

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Ao longo do documento de 72 páginas apresentam-se como exemplos: a dimensão dos massacres cometidos pelo Estado sionista, que matou já 65.000 pessoas desde 7 de outubro de 2023, assassinando e causando lesões graves a “um número sem precedentes de civis através do uso de munição pesada em zonas densamente povoadas”; o uso de violência sexual e de género; os bombardeamentos durante as tréguas; os ataques diretos contra crianças, até em zonas de distribuição de ajuda, campos de refugiados e “zonas seguras”; os ataques contra lugares religiosos e e culturais; os bloqueios à entrada de ajuda humanitária; as deslocações forçadas de população civil, a destruição sistemática dos sistemas de saúde e educação e até a destruição premeditada de uma clínica de fertilidade em Gaza.

Israel é assim acusado de “matar, causar danos físicos ou mentais graves, infligir deliberadamente condições de vida calculadas para causar a destruição total ou parcial do povo palestiniano e impor medidas para impedir os nascimentos”. Assim, as ações do Estado sionista em Gaza cumprem quatro dos cinco critérios da definição de genocídio da Convenção sobre a prevenção e sanção de genocídios assinada em 1948. O quinto critério é a transferência forçada de menores. Por isso, “a intenção genocida era a única conclusão razoável que se podia extrair da totalidade das provas”.

Através da análise às suas declarações concluiu-se ainda que responsáveis políticos como o presidente israelita, Isaac Herzog, o primeiro-ministro, Benjamín Netanyahu e o ex-ministro de Defesa, Yoav Gallant, “incitaram a cometer genocídio” de acordo com o relatório. As suas declarações são consideradas igualmente “provas diretas de intenção genocída.

Os autores do relatório exigem portanto um cessar-fogo permanente e o fim do bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza.

Ofensiva terrestre sobre Gaza

Ao mesmo tempo que este relatório é conhecido, há notícia de que Israel intensificou durante a madrugada de terça-feira os ataques aéreos contra a cidade de Gaza, assassinando aí pelo menos mais 52 pessoas, e iniciou a sua ofensiva terrestre contra a capital do território.

Esta ofensiva, explicou um responsável militar israelita, foi precedida de semanas ataques contra “objetivos chave” na cidade e de destruição de edifícios de grande envergadura e será “faseada e gradual”, mas que agora foi dado “um grande passo em frente na implementação e também nas operações no terreno”, havendo já tanques no centro da cidade.

O Estado sionista, que tinha emitido uma ordem de evacuação dirigida a toda a população da Cidade de Gaza, apesar desta não ter lugares seguros para onde fugir, voltou a fazê-lo: “juntem-se a 40% dos residentes da cidade que já decidiram sair para proteger as suas vidas e as dos seus entes queridos”, afirmou Avichay Adraee, coronel e porta-voz das Forças de Defesa de Israel.

Antes de mais uma sessão do seu julgamento por corrupção, Netanyahu confirmou: “iniciámos uma operação poderosa na cidade de Gaza”. O seu ministro da Defesa, Israel Katz, celebrou: “Gaza arde”, garantindo”empenho” até que “a missão seja cumprida”.

Alguns comandantes militares discordam do governo de extrema-direita israelita. À AFP, três fontes oficiais confirmaram que o chefe de gabinete militar Eyal Zamir, numa reunião no domingo do primeiro-ministro com os altos dirigentes de segurança, instou-o a procurar um cessar-fogo. Outros têm feito saber que estão preocupados com o ataque que pode ser uma “armadilha mortal” para as tropas e colocar em risco os reféns israelitas no território.

O mesmo disseram igualmente as famílias dos reféns israelitas, protestando contra a intensificação da ofensiva. Einav Zangauker, cujo filho está detido em Gaza, declarou que “o gabinete da morte decidiu dar mais um passo em direção à guerra eterna”.

Para o líder do partido mais votado da oposição, Yair Lapid, o problema é que a invasão terrestre é “amadora, desleixada, arrogante e improvisada”, não havendo clareza sobre o “quadro final” do estatuto de Gaza nem “como traremos os reféns de volta, como terminaremos a guerra”.

Assim, “estão a enviar o exército para combater lá. Os soldados serão mortos. Os reféns serão mortos, e ninguém percebe qual é o objetivo”, concluiu

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