A madrugada e manhã de domingo voltaram a ser de pânico e sobressalto na cidade de Gaza, com o regresso dos bombardeamentos aéreos a edifícios residenciais. Segundo as autoridades de saúde locais, nas últimas 24 horas foram levados para os hospitais de Gaza 68 cadáveres e 346 feridos. 10 dos mortos e 18 dos feridos eram pessoas que estavam nas filas para receber a ajuda humanitária organizada por Israel e acabaram baleados pelos soldados, elevando a contagem de mortos nessas circunstâncias para quase 2.500 e a de feridos para mais de 18 mil.
A recente ofensiva israelita na Cidade de Gaza, no norte da Faixa de Gaza está a ameaçar o pouco que resta do sistema de saúde. As equipas dos Médicos Sem Fronteiras avisaram que será “simplesmente impossível obrigar um milhão de pessoas - incluindo centenas de doentes em estado crítico e bebés recém-nascidos - a sair de Gaza para áreas sobrelotadas e sem recursos no centro e sul da Faixa”.
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“Isso equivale a uma sentença de morte para um milhão de palestinianos”, alerta a organização, acrescentando que os ataques à Cidade de Gaza repetem o padrão de “destruição completa” já visto por estes médicos em Rafah. “Alguns dos nossos colegas já foram deslocados mais de onze vezes desde 2023”, afirmou o coordenador de emergências dos MSF em Gaza, Jacob Granger.
A organização apela ao fim imediato do uso das ordens de evacuação como meio para o deslocamento forçado da população, a um cessar-fogo duradouro e à entrada de ajuda humanitária em quantidade suficiente para dar resposta às necessidades. A proteção das instalações médicas e dos movimentos das organizações humanitárias, o fim da “destruição sistemática de uma cidade inteira” e da sua população e o aumento da pressão internacional para parar esta ofensiva e parar a transferência de armas para Israel por parte dos seus aliados são outras reivindicações dos MSF.
Sem acesso a água potável, “as pessoas irão morrer numa questão de dias”
Com cerca de 90% dos sistemas de água e saneamento destruídos, as pessoas estão a fugir dos bombardeamentos para abrigos improvisados, que muitas vezes também são alvo das bombas israelitas.
“Os MSF continuam a distribuir água na cidade mas, à falta de reservas de água, se as forças israelitas tornarem impossível a produção e distribuição de água potável, as pessoas irão morrer numa questão de dias”, prosseguiu Granger, dando conta dos surtos de doenças e diarreias agudas nos campos de refugiados sem condições sanitárias.
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Com mais de metade dos hospitais de Gaza fora de serviço e os restantes a funcionar à beira do colapso e sob ataque permanente dos militares de Israel, os MSF dizem que a taxa de ocupação de camas atingiu 300% no hospital Al-Ahli, 240% no de al-Shifa e 210% no de Rantissi.
Os Médicos Sem Fronteiras denunciam também a situação de fome causada pelo bloqueio prolongado à entrada de ajuda humanitária no território e a quantidade de mortes e feridos graves atingidos a tiro pelos israelitas nas filas de distribuição de comida organizada pelas forças ocupantes.