No Relatório de Gestão e Contas de 2021 do +Liberdade encontram-se os logótipos dos parceiros internacionais deste instituto liberal. Para pressionarem os decisores políticos e atenderem aos interesses dos seus “clientes”, estes think tank criam relatórios e ocupam espaço mediático e nas redes sociais a favor da agenda ultra-liberal.
A intenção das elites económicas e financeiras que financiam estas estruturas é clara: cortes nos serviços públicos; privatização de setores estratégicos; despedimentos facilitados; destruição da proteção laboral, os pobres e o meio ambiente; simplificação dos despejos e liberalização do mercado de arrendamento; criminalização de protestos pacíficos; restrição do direito de greve.
Atlas Network
A organização transnacional, sediada em Washington, sustenta grupos semelhantes em vários pontos do mundo.
Num artigo no The Guardian, George Monbiot detalha como este “guarda-chuva” do pensamento ultra-liberal está ligado a Rishi Sunak, Javier Milei, Donald Trump ou Jair Bolsonaro. O programa do ex-presidente norte-americano foi montado pela Heritage Foundation, que integra a Atlas Network.
As ligações da organização a Javier Milei são corroboradas pelo DeSmog, que escreve que as propostas económicas do presidente argentino de extrema-direita, foram moldadas pela Atlas Network. Um extenso dossier sobre este think tank assinala que Alberto Benegas Lynch, conselheiro de Milei e também diretor da Mont Pelerin Society, integra vários grupos da Atlas Network na América Latina. Investigações realizadas pelo Intercept Brasil e pelo Outras Palavras apontam a Atlas Network por trás da guinada à direita na América Latina. A organização está ainda associada aos ataques contra os direitos dos povos indígenas da Austrália e Canadá, e à perseguição de ativistas climáticos em vários pontos do mundo.
O ex-presidente da Atlas Network Alejandro Chafuen explica a função do think tank citando Ludwig Von Mises, no seu livro ‘Burocracia’: “ele descreve um tipo de pessoas – a elite – que não é apenas o verdadeiro cliente da Atlas e de muitos grupos de reflexão, mas também o cliente ideal, que nos beneficia e é servido por nós”.
Neste contexto, é natural que entre os financiadores da Atlas Network surjam fundações negacionistas da crise climática, ligadas aos bilionários Koch, à Exxon Mobil ou à indústria do tabaco. Em 2022, o think tank amealhou mais de 20 milhões de dólares em donativos.
Na Atlas Network, estão também outros dos parceiros assumidos pelo Instituto +Liberdade, como os que em seguida apresentamos.
Imagem publicada em brasilpopular.com
Adam Smith Institute
Apesar de ser dos maiores think tanks do mundo, o Adam Smith Institute “não declara os seus financiadores no Reino Unido e recebeu a classificação de transparência mais baixa possível no projeto Who funds you?”, da ONG openDemocracy. Com laços históricos com o Partido Conservador britânico, o instituto é financiado pela indústria do tabaco (consultar vasta informação publicada pela Universidade de Bath sobre a matéria), bem como por grupos americanos de negação da crise climática.
O Adam Smith Institute aplaudiu os planos económicos do governo britânico de Liz Truss até estes instalarem o caos financeiro e defende privatizações em várias áreas, além do fim da proibição do fracking.
Desde 14 junho de 2023, o think thank tem como patrono Nadhim Zahawi, ex-ministro demitido por Rishi Sunak, depois de divulgada a sua dívida milionária às finanças britânicas, liquidada só nos últimos dias do Governo de Boris Johnson. O ex-governante e antigo presidente do Partido Conservador, explicou que integrou o Adam Smith Institute para “libertar o génio imaginativo dos empresários e criadores de riqueza de restrições indevidas”.
Institute of Economic Affairs
Esta “instituição de caridade educacional” destacou-se na defesa do “mini-orçamento” de Liz Truss.
O IEA é um dos mais antigos grupos de reflexão liberais. O think tank defende a redução do Estado e das regulações, inclusive dos paraísos fiscais, a privatização dos cuidados infantis e do serviço público de saúde (NHS). O IEA foi uma das organizações na coordenação da campanha por uma saída “dura” do Reino Unido da União Europeia.
O think tank tem-se oposto sistematicamente às políticas climáticas do governo do Reino Unido, preferindo “soluções de mercado”. Em outubro de 2022, Andy Mayer, executivo da IEA, afirmou que o governo deveria “livrar-se” da sua meta líquida zero, um “modelo da esquerda muito dura, socialista e de planeamento central”. Já o conselheiro político da IEA, Matthew Bowles, caracterizou as políticas de zero emissões e o NHS como “religiões gémeas” que estão “destinadas a sugar cada vez mais dinheiro público”. O think tank apelou ao aumento da perfuração no Mar do Norte e à retoma do fracking, negando a existência de qualquer “objeção ecológica ou científica sensata”.
Em 2018 foi revelado que o IEA recebeu financiamento da gigante petrolífera BP. O então diretor da IAE, Mark Littlewood, confirmou a um jornalista infiltrado que a empresa petrolífera utilizava o think tank para pressionar ministros de Londres sobre padrões ambientais e de segurança ou taxas de impostos. Mark Littlewood é agora o diretor da PopCon, fação do Partido Conservador que integra o negacionista climático Lord Frost e o ultra-direitista Nigel Farage.
Austrian Economics Center
Este centro promove atualmente uma petição dirigida à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu para que os decisores políticos que reduzam “as regulamentações e impostos, concentrando-se nas funções essenciais do governo e permitindo o crescimento empresarial”; reformem a UE e as suas instituições para dar prioridade à soberania regional, à abertura comercial e regulação menos centralizada; e liberalizem “os mercados, especialmente nos setores de energia e habitação, para promover soluções do livre soluções e reduzir o controlo estatal”.
No que respeita às alterações climáticas, encontramos, no site do centro, afirmações como: “Ainda há muito a aprender sobre a Terra e o seu clima, e os governos não devem tomar decisões precipitadas na tentativa de controlá-la, ao mesmo tempo que colocam as pessoas em risco. Deixem a natureza regular-se”.
Cato Institute
O Cato Institute foi fundado em 1974 por Ed Crane, Murray Rothbard e pelo patrão do conglomerado Koch Industries, Charles Koch.
Este instituto tem-se desdobrado em elogios a Javier Milei, assinalando que os primeiros dois meses de mandato do novo presidente argentino “forneceram um fluxo constante de boas notícias aos libertários de todo o mundo”.
Na agenda do think tank figuram medidas que privilegiam os combustíveis fósseis, a redução ou abolição de impostos e a privatização de numerosas agências governamentais e programas de bem-estar social.
Detalhando ter recebido 84% do seu financiamento de indivíduos, 12% de fundações e 3% de empresas, o Cato Institute declarou uma receita total de 57 milhões de euros em 2022. Na lista dos seus financiadores, volta a figurar a Exxon Mobil e a indústria do tabaco.
Charles Koch. Fortune Brainstorm TECH, CC BY–NC–ND 2.0
Epicenter
Lançado em 2014, é formado pelo Centro de Estudos Políticos (Dinamarca), Fórum de Desenvolvimento Civil (Polónia), Institut Economique Molinari (França), Instituto de Assuntos Económicos (Reino Unido), Instituto de Estudos Económicos e Sociais (Eslováquia), Instituto Bruno Leoni (Itália), KEFiM (Grécia), Instituto do Mercado Livre da Lituânia, Prometheus (Alemanha) e Timbro (Suécia).
No seu site, encontramos artigos que fazem a apologia do sistema bancário livre, da privatização do Estado Social, do investimento em Defesa. O Epicenter tem promovido o trabalho de grupos de reflexão sobre o mercado livre, incluindo relatórios que criticam os subsídios às energias renováveis e elogiam o fracking.
Foundation for Economic Education
À frente da FEE, que, em 2022, somou receitas no valor de 8 milhões de dólares, figura o CEO do Instituto Millenium em São Paulo, Diogo Costa. O Instituto Millenium conta com o apoio de importantes grupos empresariais e meios de comunicação. A última iniciativa promovida na sua página de Facebook tem como convidados os principais dirigentes do agronegócio no Brasil.
Fraser Institute
Sediado no Canadá, apresenta-se como “instituição de caridade”. Conta com fundos oriundos dos mais poderosos intervenientes nos setores petrolífero, como a Exxon Mobil, as indústrias Koch e o setor farmacêutico. Tem divulgado trabalhos que questionam as evidências sobre as alterações climáticas e contestam a taxa de carbono. Durante a pandemia, o Fraser Institute propagandeou alegações sobre higiene para fazer a apologia do uso de embalagens de plástico e opor-se à reciclagem.
Os seus estudos, comunicados de imprensa, vídeos, artigos e comentários comprometem-se com a defesa da privatização da saúde, criticando os serviços públicos de saúde do Canadá.
No que respeita ao ano de 2022, o Fraser Institute declarou receitas de 2,2 milhões de dólares.
Tax Foundation
Apresenta-se como “a principal organização sem fins lucrativos de política tributária apartidária do mundo”. “Um mundo onde o código fiscal não atrapalhe o sucesso” é o seu lema.
Mediante os estudos publicados pelo Center for Federal Tax Policy, Center for State Tax Policy, e Center for Global Tax Policy a Tax Foundation defende a flat tax, a taxa única de IRS preconizada, em Portugal, pela Iniciativa Liberal e pelo Chega.
Em 2022, a Tax Foundation conseguiu juntar 6 milhões de dólares em receitas.
Students for Liberty
A “maior organização estudantil libertária do mundo” está na vanguarda da negação climática.
A Greenpeace denunciou que o Students for Liberty (SFL) é um tentáculo das inúmeras operações de recrutamento, formação e networking das indústrias Koch para desenvolver profissionais que operam sob a sua “cultura” de gestão. Este think tank tem atacado o consenso da ciência climática e beneficia de financiamento da família Koch, do Atlas Network e outras organizações filiadas na rede.
Em 2017, fundou o Consumer Choice Center, que se autodenomina uma organização de direitos do consumidor. Muito ativo no lóbi contra reformas verdes na Europa, o think tank e os seus analistas afirmaram que os planos da UE para se tornar neutra em carbono até 2050 teriam consequências económicas desastrosas. Os seus analistas também sugeriram que a Europa deveria “arquivar todas as suas ambições climáticas [e] refinar mais petróleo” à luz da guerra na Ucrânia.
Em 2023, o SFL arrecadou receitas de quase 6 milhões de dólares.