Coimbra

José Manuel Pureza luta por alternativa à resignação e a uma governação rasteirinha

04 de outubro 2025 - 10:37

Num comício na noite de sexta-feira, o cabeça de lista do Bloco à Câmara de Coimbra defendeu “utopias” como transportes públicos gratuitos, serviço municipal de cuidados, preservação do Choupal, habitação municipal não concentrada em guetos e a reabilitação da Baixa.

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José Manuel Pureza no comício de Coimbra.
José Manuel Pureza no comício de Coimbra.

Duas cidades estiveram nas mentes de todos os intervenientes no comício autárquico do Bloco de Esquerda esta sexta-feira. Com um genocídio a continuar e com os ativistas humanitários da flotilha a serem sequestrados por Israel, Gaza acabou por em todas as impôs-se como um dos temas da noite. Mas o evento servia sobretudo para trazer propostas ao nível local num campanha que quer “mudar mesmo Coimbra”.

E, para isso, José Manuel Pureza, o cabeça de lista à Câmara Municipal, destoou dos seus companheiros de comício e falou não de duas mas de três falou de três cidades.

A primeira, Gaza, “a cidade da morte da humanidade”, relativamente à qual o atual presidente da Câmara, José Manuel Silva recusou que a Câmara Municipal de Coimbra tivesse um gesto simbólico de solidariedade invocando que “o assunto é muito complexo”. O que considerou “cinismo cúmplice com os genocidas”.

A segunda foi a cidade imaginária de Trude, descrita por Italo Calvino, que utilizou como metáfora da “cidade igual a todas as outras cidades, que são iguais umas às outras. São cidades postais ilustrados para turistas, com os mesmos souvenirs e os mesmos comboiozinhos de passeio, as mesmas pizzarias e as mesmas lendas de um passado construído”. Para ele, os governos governos municipais do PS e PSD, tornaram “Coimbra numa Trude”.

Sobre a terceira, Coimbra propriamente dita, descreveu “as casas podres da Baixa, a solidão dos velhos sentados nos centros comerciais, a lonjura do centro para quem vive a 20 kms dele, a violência social contra os imigrantes, a colonização da política municipal para a cultura pela promoção de eventos e pelo entretenimento”, toda uma “cidade invisibilizada”.

Perante isto, direita e PS tratam Coimbra como uma marca, mostrando “o mesmo projeto de cidade, sem alma nem rasgo. A estratégia de esquerda, afirma o candidato autárquico bloquista, põe à frente de tudo a criação de uma comunidade sólida e coesa, que combata as discriminações que humilham e promova as discriminações que igualam”. Feita de cuidado, proteção do ambiente, participação e “exigência de cuidados iguais para ricos e para pobres”.

Defendeu ainda “utopias”, que são afinal apenas a “não resignação ao que está e a uma governação rasteirinha”, como transportes públicos gratuitos, serviço municipal de cuidados, preservação do Choupal, habitação municipal não concentrada em guetos, reabilitação da Baixa entre outras.

Ir além da falsa alternativa entre “a estagnação decadente e a modernização bacoca”

Coimbra Paixão

Maria Paixão, cabeça de lista à Assembleia Municipal, salientou haver uma falsa alternativa “entre a estagnação decadente e a modernização bacoca”. A primeira, feita de “marasmo”, deixou os cidadãos ficar “reféns da gestão do quotidiano, da mesquinhez política e da intriga local”. A segunda, trazendo“descaracterização”, transformou tudo “em produto para ser vendido ao mais ingénuo dos turistas e nada parece ter sido pensado para quem aqui vive”. E o governo da cidade passou a ser “um exercício de divulgação turística e de promoção imobiliária, de branding, e marketing e networking.”

Como alternativa, também ela finalizou a sua intervenção sob o signo da utopia, salientando ela igualmente a utopia do transporte público gratuito, do cuidado, da habitação digna para todas as pessoas, da dignidade humana, do combate à emergência climática, da cultura viva e da democracia. Recusando portanto “o discurso paternalista que rejeita as formas de democracia direta por desconfiar das pessoas” e afirmando a necessidade de “mudar mesmo” Coimbra.

As eleições autárquicas são “tremendamente importantes”

Álvaro Garrido, mandatário da candidatura, invocou o genocídio em Gaza e a flotilha, ao mesmo tempo que reforçou a necessidade de uma “esquerda que precisa mesmo de ser esquerda”.

Considera que estas eleições são “tremendamente importantes” e o seu significado político “decisivo” para os tempos que aí vêm. Até porque, há uma “contra-revolução” que o governo leva em curso, de que são exemplos, contra-reforma do trabalho, várias das suas posições internacionais e a lei dos estrangeiros. Sobre Coimbra, vinca que a “degradação democrática não é de hoje”.

Coimbra, concelho sem muros

Marisa Coimbra

Igualmente, Marisa Matias não esqueceu a situação em Gaza e a flotilha e recordou ainda que o primeiro-ministro tinha garantido que não iria nenhum material de guerra para Israel a partir de Portugal e “sabemos hoje que em Abril houve três caças F-35 que saíram da base das Lajes e há desconfianças sérias de que não foram os primeiros a ter saído”.

O Bloco exige que tudo sobre este caso seja revelado porque “Estados que permitam que material de guerra seja transportado, de que forma for, para o Estado que está a cometer o genocídio, que está a massacrar o outro povo, se não tomarem medidas para que isso não aconteça, serão cúmplices desse genocídio”.

Do programa do Bloco para Coimbra, salientou a parte sobre um “concelho sem muros” que responda aos problemas em todo o território e não apenas no espaço urbano para que todos possam usufruir dos serviços públicos e participar ativamente na governação autárquica.

Esta proposta tem duas medidas concretas. Em primeiro lugar, a introdução de circuitos curtos de distribuição. Que se traduz por fazer com que “aquilo que é produzido neste concelho possa chegar, de facto, a todo lado do concelho, sem os produtores estarem sujeitos à concorrência das grandes superfícies.

A segunda é que os serviços públicos essenciais o sejam “em todas as partes do município” da saúde, à educação, à cultura, ao setor dos cuidados.