Este foi o governo mais breve da V República e acentuou ainda mais a crise política em França. Cai o terceiro primeiro-ministro num ano depois da decisão do presidente francês de dissolver a Assembleia Nacional a seguir às eleições europeias.
Sébastien Lecornu tinha sido indigitado por Macron primeiro-ministro a 9 de setembro. Demorou a nomear os seus ministros, o que fez este domingo. Mas na manhã desta segunda-feira acabou por entregar a sua demissão ao Presidente da República.
Apontado como uma das figuras mais próximas de Macron, Lecornu justificou que “as condições já não estavam reunidas” e culpou os “apetites partidários” para disparar contra Bruno Retailleau, líder dos Republicanos. O partido de direita tem sido um apoio de Macron mas no domingo colocou em causa a participação do seu partido no executivo que tinha acabado de ser formado.
Lecornu, depois de nomeado, prometera fazer tudo diferente do seu antecessor. Acabou por reconduzir 12 ministro do governo anterior num total de 18 com que pretendia governar. O próprio Retailleau tinha sido reconduzido como ministro do Interior mas, nas declarações que ditaram a rutura, acusou o governo de que devia fazer parte de “não refletir a rutura prometida” face ao executivo de que também tinha feito parte.
Por outras palavras, o líder gaulista não ficou satisfeito com o facto de haver dez ministros do lado do macronismo face a quatro dos Republicanos e não lhe agradou que Bruno Le Maire, ex-ministro das Finanças durante sete anos sob Macron, regressasse agora como ministro “das Forças Armadas e dos ex-Combatentes”.
Na sequência da demissão do breve chefe do executivo, as posições da oposição sobre a saída para a crise dividem-se. A França Insubmissa, por exemplo, pensa que é o próprio Macron que fica em causa e que, por isso, se devia demitir, abrindo portas a novas eleições presidenciais. Como a demissão é pouco provável, Jean-Luc Mélenchon propôs a discussão “imediata” de uma moção de destituição do presidente e propôs uma reunião aos outros partidos de esquerda para a tarde desta segunda-feira para dirimir as diferenças que este campo tem enfrentado depois de ter ido junto a votos e conseguido ser o mais votado a nível nacional, mas sem maioria absoluta.
Marine Tondelier, dos Verdes, foi a primeira a responder afirmativamente à proposta, considerando que “o nosso campo político deve estar à altura da história e das dificuldades em que se encontra o nosso país”.
A União Nacional, de extrema-direita, por seu lado, quer a dissolução do parlamento e novas eleições legislativas que sonha vencer. O seu presidente, Jordan Bardella, alega que “não se pode reencontrar estabilidade sem o regresso às urnas”.