Extrema-direita

Polícia acusado de espancamento mortal de imigrante é apoiante do Chega

22 de agosto 2025 - 11:39

Mesmo depois de interrogado pelo Ministério Público, um dos agentes acusados de homicídio qualificado em Olhão continuou a partilhar nas redes mensagens que alimentam ódio a imigrantes.

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Polícias e manifestação do Chega

O semanário Expresso revela esta sexta-feira que um dos dois agentes acusados de terem espancado um imigrante marroquino algemado em Olhão, que viria a morrer no hospital por causa dos ferimentos causados, partilhava regularmente a propaganda do Chega nas suas redes sociais. Fotos e vídeos publicados por André Ventura e Rita Matias sobre imigrantes, ciganos e o RSI são alguns dos conteúdos partilhados pelo agente Jorge S., que vai a julgamento com o Ministério Público a pedir a condenação pelos crimes de sequestro e homicídio qualificado.

Para além do historial de partilha de conteúdos do Chega e do Movimento Zero, criado no seio da PSP após a condenação dos agentes que espancaram jovens negros na esquadra de Alfragide, já depois de ter sido interrogado pelo Ministério Público e dessa forma saber que era suspeito de ter assassinado Aissa Ait Aissa, o agente da PSP voltou a partilhar mais uma mensagem anti-imigração nas suas redes, desta vez uma imagem com a habitual informação falsa propagada pela extrema-direita sobre supostos apoios oferecidos pelo Estado a imigrantes que chegam a Portugal.

O advogado da família de Aissa, que se constituiu assistente no processo e pede uma indemnização ao Estado português de 1,6 milhões de euros, diz que a partilha de material de natureza discriminatória é a prova da “predisposição hostil” do agente da PSP para com imigrantes e pessoas de confissão islâmica e que “tal sentimento de ódio constituiu o verdadeiro motor da conduta criminosa” de Jorge S.

eO homicídio ocorreu em março do ano passado, quando os agentes da PSP foram chamados por duas vezes no mesmo dia por funcionários de dois supermercados da mesma rede, queixando-se de que os dois imigrantes de nacionalidade marroquina, Aissa e Hassan, estariam a abrir e consumir produtos alimentares no local. Na primeira vez foram identificados perto do local, mas na segunda foram algemados e levados na viatura policial para um caminho municipal.

Segundo a acusação do Ministério Público, Hassan adormeceu no caminho, tendo os polícias retirado as algemas antes de o atirarem para a berma. A mesma sorte não teve Aissa, que ainda algemado com as mãos atrás nas costas foi agredido violentamente na cabeça e na face, tendo dado entrada nos cuidados intensivos onde viria a morrer semanas depois.

O propagação do discurso de ódio contra imigrantes foi tema de uma investigação jornalística em 2022, que identificou 591 agentes da PSP e GNR que publicavam mensagens “contrárias ao Estado de Direito, apelos à violência e à violação de mulheres, comentários racistas, xenófobos, misóginos e homofóbicos, simpatia pelo Chega e por outros movimentos de extrema-direita e saudosismo salazarista”. A IGAI prometeu investigar, mas o resultado saldou-se pela abertura de apenas 13 processos disciplinares, resultando em oito condenações cuja sanção mais grave foi de 120 dias de suspensão a um agente. Nenhum foi afastado das forças de segurança.