Esta segunda-feira à noite, na televisão pública, Vladimir Putin tratou de colocar à disposição de Trump as terras raras do seu país. O presidente russo garantiu que o seu país tem “significativamente mais recursos deste tipo do que a Ucrânia” e assegurou que “estamos prontos para trabalhar com os nossos parceiros, incluindo os norte-americanos”.
Estas declarações surgem no âmbito das negociações entre EUA e Rússia sobre como dividir os despojos da invasão na Ucrânia e depois do presidente norte-americano ter exigido ao país invadido que disponibilizasse as suas terras raras como suposta compensação pelo que os EUA gastaram nesta guerra.
Trump tinha confirmado que estavam na calha “importantes acordos de desenvolvimento económico com a Rússia”. Duas horas depois da conferência de imprensa em que o disse, Putin presidiu a uma reunião não anunciada do seu governo com os assessores económicos sobre a questão dos metais raros.
Publicamente, o presidente russo veio a esclarecer a seguir que os acordos para exploração destes recursos estender-se-ão eventualmente aos territórios ucranianos que invadiu e continua a ocupar.
Na sua avalanche de declarações, Trump tinha dito pouco antes estar “muito próximo” de conseguir alcançar um acordo sobre minerais raros com a Ucrânia. Zelenski tinha declarado recusar a exigência de entregar o equivalente a 500 mil milhões de dólares em recursos minerais como suposta retribuição pelo apoio militar. Mas depois disso a vice-primeira-ministra ucraniana, Olha Stefanishina, tinha avançado que os dois lados estavam nas “etapas finais das negociações” sobre o domínio dos EUA do minério valioso do seu país.
Dados do Serviço Geológico dos EUA indicam que a Rússia tem a quinta maior reserva de terras raras do mundo, logo a seguir à China, ao Brasil, à Índia e Austrália. Os elementos químicos extraídos delas são fundamentais para as novas indústrias tecnológicas.
Na segunda-feira, dia em que se assinalava o terceiro aniversário da invasão russa da Ucrânia, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução a condená-la e a exigir a devolução das zonas ocupadas. EUA e Rússia votaram juntos contra. No Conselho de Segurança, a mesma aliança conseguiu fazer aprovar uma resolução dos EUA apoiada pelos russos em que não surge a palavra “invasão” ou sequer a palavra “guerra” mas um “conflito” entre as duas partes, apelando-se a um “fim rápido” deste para alcançar uma “paz duradoura”. Países africanos e asiáticos representados neste órgão secundaram a posição enquanto os cinco países europeus se abstiveram. França e Reino Unido, com lugar permanente ao contrário de Dinamarca, Eslovénia e Grécia, poderiam ter optado por exercer o direito de veto, mas não o fizeram. Apesar dos seus representantes terem levantado a voz na defesa de uma distinção entre o país invasor e o invadido e da exigência do respeito à integridade territorial da Ucrânia e de terem proposto emendas que não passaram.
Esta terça-feira, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, louvou a “posição muito mais equilibrada” dos Estados Unidos sobre a invasão. Ao mesmo tempo, desmentiu Trump que tinha assegurado na véspera que Putin passara a aceitar a presença de uma força de manutenção da paz da Nato da Ucrânia num cenário pós-acordo de cessar-fogo.
Os negócios de milhares de milhões na reconstrução da Ucrânia
Ao mesmo tempo que se discutem os negócios com os metais raros, há um outro negócio que levanta os apetites: o da reconstrução da Ucrânia, para a qual serão precisos 524 mil milhões de dólares durante a próxima década.
Esta é a estimativa conjunta do governo ucraniano, do Grupo do Banco Mundial, da Comissão Europeia e das Nações Unidas no relatório de Avaliação Rápida de Danos e Necessidades. A verba é aproximadamente 2,8 vezes o PIB nominal estimado da Ucrânia para 2024.
Calcula-se, por exemplo, que “13% do parque habitacional total foi danificado ou destruído, afetando mais de 2,5 milhões de famílias”.