Especialistas, inquilinos e senhorios ouvidos pelo Expresso relativamente às mais recentes medidas do governo para a habitação concordam que podem causar mais aumentos de rendas.
O economista do ISEG João Pereira dos Santos começa por indicar tratar-se de uma “alocação de fundos bastante significativa” e considera “necessário que o Governo explicite o custo de cada medida e quantas pessoas deverá abranger”.
Sobre o teto de 2.300 euros para renda moderada é claro: “estamos a apoiar quem não precisa”, sustentando que “quando metemos estes limites num teto tão alto, isso pode criar também uma pressão inflacionária para que os preços aumentem”.
A Associação de Inquilinos Lisbonenses concorda, analisando que “qualquer senhorio vê aqui uma oportunidade de subir a renda”. Pedro Ventura, presidente da organização, diz tratar-se assim de “um ataque direto à classe média” porque vai deixar de “ter a possibilidade, por um lado, de arrendar, e por outro lado também de comprar” dado o estímulo que aquele valor vai implicar.
E até a Associação Lisbonense de Proprietários admite que os senhorios poderão ter a “tentação” de aumentar a renda até aquele valor. A organização dos senhorios está, obviamente, ao lado do governo, concluindo que as suas medidas são “positivas”, nomeadamente a descida de impostos. Mas queria que o executivo fosse mais longe naquilo a chama “rendas congeladas” cujos senhorios se sentem “profundamente esquecidos e insultados” por não terem acesso ao arrendamento moderado.
A mesma valorização “positiva” é feita por outro dos beneficiários diretos das medidas do governo. A Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas concorda com reduções do IVA, “simplificações” de licenciamentos”, incentivos a senhorios e o fim das mais-valias de IRS na venda de imóveis, caso o valor seja reinvestido em habitação a rendas moderadas. Diz em comunicado que são “em grande parte, as propostas que a AICCOPN tem vindo a apresentar ao longo dos últimos anos”.
