O jornal espanhol Público faz esta segunda-feira um mapa dos ataques contra sedes de partidos políticos do seu país nesta legislatura. Em dois anos, houve um total de 291 ataques contra sedes partidárias. Os partidos de esquerda foram o alvo em 91,7% dos casos.
Dos 268 ataques a sedes partidárias de esquerda, o destaque vai para o PSOE com 238, seguido da Esquerda Unida/PCE com 17, do Podemos com sete, do Bloco Nacionalista Galego com três, do Compromís com duas e do EH Bildu com um.
Do lado da direita nacional e dos soberanistas catalães e bascos contaram-se 23 ataques, dez dos quais a sedes do Vox, sete às do PP, cinco às do PNV e uma às dos Junts.
PSOE, o maior alvo, queixa-se que a direita nunca condenou ataques
No que diz respeito às sedes do PSOE, aconteceram dois picos de ataques. O primeiro, entre novembro e a primeira semana de dezembro quando este partido firmou um acordo com os catalães do Junts. Neste espaço de tempo houve, pelo menos, 91 ataques a sedes sem contar com ataques pessoais. Fontes do partido diz que, na realidade, serão mais. Só que muitas sedes em terras mais pequenas nem sequer denunciam.
O segundo terá sido neste verão, quando se tornou conhecido o caso que envolveu o secretário de organização do partido Santos Cerdán. Só em junho e julho somaram-se mais de duas dezenas de ataques.
Sublinhe-se que aquele jornal conta na categoria de ataques atos de vandalismo como pinturas nas fachadas, que no caso do PSOE têm sido sobretudo símbolos nazis e acusações de corrupção. Mas também tem havido situações mais graves como ataques com explosivos.
Ao diário espanhol, o PSOE queixa-se que “nem Feijóo nem ninguém da direção nacional do PP alguma vez condenou a violência sofrida” pelo seu partido.
A Esquerda Unida indica ter sofrido “mais de três dezenas de ataques” desde novembro de 2023, pouco mais de metade contra sedes. A formação política assinala ainda um crescimento “notável do assédio verbal contra dirigentes e detentores de cargos públicos” “tanto quando realizam alguma atividade como na sua vida privada”. E até alguns militantes de base têm sido visados “sobretudo em lugares pequenos”. Responsabilizam-se “indivíduos que se identificam na maior parte das vezes com a direita e a extrema-direita”.
O Podemos, que vive um momento de menor protagonismo mediático por já não estar no governo, conheceu no passado momentos de assédio muito intenso. No que diz respeito a este período, sete das suas sedes foram vandalizadas, ao mesmo tempo que dirigentes continuam a ser alvo de insultos e ameaças permanentes. Fonte do partido sublinha que já vem alertando “há muito” para a necessidade de “confrontar estes elementos reacionários, mas, infelizmente, muitos fizeram vista grossa”.
O Bloco Nacionalista Galego dá conta de três ataques às suas sedes e diz dque enuncia sempre “veementemente este tipo de atos, que procuram intimidar e silenciar. Não têm lugar numa sociedade democrática, mas não nos silenciarão: perante a intolerância, reafirmamos o nosso compromisso com a liberdade de expressão, o direito à participação política e a defesa de uma Galiza livre, justa e virada para o futuro”, avança Lucía López, dirigente da organização.
O Compromís foi alvo de dois ataques com pinturas de simbologia fascista e diz que estes “refletem a sensação de impunidade daqueles que a partir do ódio e da intolerância não respeitam as regras da democracia”. O EH Bildu viu a sede de Pamplona pintada com símbolos nazis a palavras contra o presidente da Câmara mas também dá conta que ameaças e insultos contra os seus dirigentes são recorrentes.
Fora da contabilidade fica o Sumar porque não tem sedes físicas na maior parte das cidades. Ainda assim, dizem-se alvo de “agressões verbais” e criticam a violência política que “nunca se justifica”. Também sem ter conhecido ataques às suas sedes neste período, ao contrário de em momentos mais acesos da luta pela independência catalã, a Esquerda Republicana da Catalunha destaca igualmente o “assédio” aos porta-vozes, que para além de comentários e ameaças nas suas redes sociais “até viram a sua vida quotidiana interrompida”.
PP minimiza a violência, Vox tenta exagerá-la
Do lado da direita, o PP fiz que tem conhecimento apenas de “exemplos isolados” deste tipo. Nas respostas ao Público recordam sobretudo as pinturas depois da tempestade em Valência contra Mazón, o presidente da Generalitat acusado de negligência. Mas ainda na terça-feira passada a sua sede de Castela-La Mancha foi alvo de pinturas nazis.
O PNV conta cinco vezes que as suas sedes locais foram grafitadas com referências como “ETA” ou “Txapote”. O slogan “que vote em ti o Txapote”, referência a um dirigente da ETA preso, foi utilizado pelo PP e pela extrema-direita no quadro das negociações do PSOE com as formações independentistas bascas para a aprovação do seu orçamento.
Relativamente ao Vox, a resposta do partido foi dizer que sofreu “38 ataques a sedes” e “74 contra mesas informativas”. Instado como todos os outros partidos a fornecer detalhes sobre estes ataques, o partido não respondeu. Aquele órgão de comunicação social investigou os incidentes e descobriu apenas dez. Também reivindicam ser alvo de uma dezena de agressões violentas “no mais absoluto silêncio dos meios de comunicação” responsabilizando a “esquerda radical” e “o separatismo” . O Público não as confirmou. Mas mesmo que todos os ataques de que dizem ter sido alvo fossem verdade continuariam a ser menos de 15% do total.