Entrevista

Tarifas: "Substituir importações e alargar exportações é fundamental"

10 de abril 2025 - 18:44

Em entrevista ao Esquerda.net, Francisco Louçã explica os impactos das tarifas anunciadas pelos Estados Unidos da América por todo o mundo e as soluções para mitigar essas tarifas em Portugal.

porMadalena Figueira

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Francisco Louçã
Francisco Louçã. Fotografia de Ana Mendes.

Donald Trump começou uma chantagem com tarifas que acabou em guerra comercial com vários países. Agora, pausou algumas tarifas durante 90 dias e a União Europeia reciprocou, mas a disputa com a China continua. O impacto da guerra comercial anunciada fez-se sentir na bolsa, com subidas e descidas imprevisíveis e suscetíveis a rumores.

Em entrevista ao Esquerda.net, Francisco Louçã, economista, fundador e candidato do Bloco de Esquerda ao círculo eleitoral de Braga nas  eleições de 18 de maio, explica o impacto das tarifas e o desnorte da própria administração Trump.


Passados dois dias das tarifas de Trump estarem em vigor, os bilionários que apoiam Trump, como Musk, Zuckerberg, Bezos e Buffett, perderam 488 mil milhões de euros. O próprio Musk entrou em confronto direto com Peter Navarro, o conselheiro comercial de Trump. Pode esta política comercial fragilizar politicamente Trump?

Os tecnoligarcas perderam e recuperaram parcialmente com o anúncio da suspensão das tarifas por 90 dias. Mas as flutuações das bolsas não são um indicador fiável da evolução económica, jogam-se expetativas de muito curto prazo – na verdade, ninguém faz a menor ideia do que se passará depois dos 90 dias e é certo e sabido que os iPhones produzidos na China duplicarão de preço ao chegar aos EUA. O mais importante indicador vai ser a evolução dos preços e em consequência dos rendimentos das pessoas (e do valor do dólar, mas isso são outros quinhentos).

O facto é que a China representa 13% das importações norte-americanas e, mesmo com a suspensão das tarifas para outras economias, o nível geral da taxa alfandegária, cálculos de Paul Krugman, passará a ser equivalente ao da maior taxa praticada no século XX, a de Hoover em 1930, e nesse momento o país importava três vezes menos produtos. Portanto, mesmo este recuo provisório não evitará um pesado efeito preço.

Poucos dias depois de estarem em vigor, as tarifas foram agora suspensas. Como podemos interpretar esta decisão? Que moeda de troca espera Trump obter com a imposição desta política?

Ele não tem estratégia. Anuncia a suspensão das tarifas numa rede social e mostra a incerteza da sua condução política. Trump e a sua equipa flutuam conforme pressões de última hora e suponho que isso é o que mais assusta os investidores e o capital.

Como pode a União Europeia, e Portugal concretamente, mitigar o impacto das tarifas? Retaliar com tarifas, redirecionar as suas exportações para outros mercados, e que mercados?

A medida estratégica – e isso sim, é estratégia – que verdadeiramente importa é a combinação de diversificação, depender menos das importações e exportações dos EUA, com uma política ativa de industrialização. A Mariana, no debate com o PS, deu o exemplo dos medicamentos, que é um dos que tem mais impacto na vida das pessoas. Substituir importações e alargar exportações é fundamental para criar capacidade produtiva e não depender do fascista da Casa Branca, assim como é fundamental para garantir emprego e salários.

Podemos ler o impacto desproporcional das tarifas como um sinal da fragilização das economias num contexto hiper globalizado?

Tudo isto é o efeito de uma disputa pela hegemonia. O fascista da Casa Branca só consegue um mundo aterrorizado pelo seu poder. A esquerda só pode enfrentá-lo em nome de quem trabalha, essa é uma luta fundamental pela liberdade e pelos direitos dos e das trabalhadoras.

Madalena Figueira
Sobre o/a autor(a)

Madalena Figueira

Economista
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