EUA

Trabalhadores da Boeing em greve

15 de setembro 2024 - 16:04

33 mil trabalhadores sindicalizados decidiram por 96% dos votos entrar em greve depois de uma proposta da administração que não compensava anos de estagnação salarial. O grande fabricante de aeronaves pode ter pela frente uma paralisação longa depois da greve de 52 dias em 2008.

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Trabalhadores da Boeing em greve.
Trabalhadores da Boeing em greve. Foto do sindicato.

Uma esmagadora maioria dos 33 mil trabalhadores sindicalizados na Boeing nos Estados Unidos decidiu na passada quinta-feira recusar o acordo proposto pela empresa e partir para a greve.

Com 96% dos votos dos trabalhadores das fábricas de Washington e do Oregon, a paralisação iniciou-se à meia-noite de sexta-feira, quando o anterior contrato coletivo de trabalho expirou, e promete arrastar-se até que seja alcançado um novo acordo com a administração do fabricante de aviões. A proposta rejeitada tinha sido aceite pela direção sindical e implicava um aumento salarial de 25% ao longo dos próximos quatro anos. Os trabalhadores exigiam inicialmente 40%.

Em entrevista à NPR este sábado, o dirigente sindical Jon Holden, da IAM, International Association of Machinists and Aerospace Workers, que tinha apoiado o acordo rejeitado, explica que agora a greve “pode durar um bocado”.

Perspetiva-se assim uma greve longa. Da última vez que os trabalhadores da empresa entraram em greve foi em 2008 e durou 52 dias, tendo custado perto de 90 milhões de euros por dia à Boeing.

Uma das principais razões para o acordo ter sido chumbado terá sido a estagnação salarial que os trabalhadores têm sofrido ao longo de mais de dez anos e que contrasta com o forte aumento do custo de vida. Outra será que a retirada do bónus anual de desempenho na oferta da Boeing iria abafar metade daquela proposta de aumento salarial. Os trabalhadores fizeram as contas e a proposta de aumentos que seria de 11% no primeiro ano, 4,4 e 6 nos seguintes, afinal seria na prática de 7%, 0 e 2.

Luta-se ainda restauração de um esquema de pensões a que anteriormente tinham direito. Os trabalhadores não esquecem a chantagem das negociações de 2013 nas quais foram ameaçados de que a produção de um novo avião seria deslocalizada. Esta proposta tinha sido inicialmente rejeitada por 67% mas um novo voto no final de dezembro, com muitos dos trabalhadores mais antigos de férias e as fábricas paradas para manutenção ditou a sua aceitação por uns meros 51%, estendendo esse contrato coletivo de trabalho por mais onze anos.

A trabalhadora Ky Carlson, no Labor Notes, relata um ambiente de excitação geral sobre a greve. Para ela, “é ótimo ver as pessoas a coordenarem-se para se ajudarem umas às outras. Isto é a maior unidade e solidariedade que já vi neste lugar.”

Conta que ainda antes da votação que levaria à greve, depois de terem conhecido o conteúdo, na sua hora de almoço, os trabalhadores desfilaram espontaneamente, primeiro dentro da sua fábrica e depois à sua porta, aos gritos de “greve”.

Esta grevista que integra um dos piquetes acrescenta que a administração ainda tentou convence-los a aceitar os seus termos, tendo enviado um e-mail em que recordava a enorme dívida da empresa e apelava a não se fazer “nada precipitado”.

A Boeing conta com cerca de 150 mil trabalhadores nos Estados Unidos. Indiretamente a sua influência é bem maior: estima-se que gere 1,6 milhões de empregos, sendo é a empresa do país com maior volume de exportações.

Contudo, em cinco anos as suas ações perderam 60% do valor. E, só no último ano, o valor de mercado da Boeing caiu perto de 40% depois de um acidente com um avião seu propriedade da Alaska Airlines no qual um painel da fuselagem porta saltou em voo por faltarem parafusos. Isto depois de alguns acidentes trágicos com aviões seus em anos anteriores. A empresa acumula agora uma dívida de 60 mil milhões de dólares.

Peritos consultados pelo New York Times afirmam que esta situação financeira não faz com que não possam suportar um aumento salarial. A empresa mantém aquilo que é descrito como um duopólio, controlando o mercado global de fabrico de aeronaves comerciais junto com a Airbus e mantém uma recheada carteira de encomendas. Harry Katz, professor da Escola de Relações Laborais e Industriais da Universidade de Cornell, acredita assim que “eles são fortes a longo prazo e têm uma posição muito sólida no mercado”.

Para além disso, lembra a CNN, o anterior CEO da empresa não se privou em 2023 de se atribuir um aumento salarial de 45%, alcançando quase 33 milhões de dólares. Estando o novo apenas há semanas no cargo.

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