Os efeitos da degradação da carreira dos professores voltam a fazer-se sentir neste arranque do ano letivo. Com cada vez menos jovens a quererem entrar na carreira e cada vez mais professores a aposentarem-se, o resultado é a falta de docentes para preencher todos os horários disponíveis.
Segundo o semanário Expresso, havia na segunda-feira 13.900 horas de aulas por atribuir em 902 horários disponíveis nas listas de ofertas de escola. E 70% destes horários por preencher concentram-se nos distritos de Lisboa, Setúbal e Faro.
"Faltam professores. É urgente valorizar a profissão", lê-se nos pendões colocados esta segunda-feira à entrada de muitas escolas do país pela ASPL, FENPROF, FNE, PRÓ-ORDEM, SEPLEU, SINAPE, SINDEP, SIPE e SPLIU. No conjunto do ano, prevê-se a saída de 3.500 professores por aposentação e a entrada de menos de 600 jovens professores, afirmou o líder da Fenprof aos jornalistas esta segunda-feira à margem de uma destas ações de colocação de faixas e pendões.
"Além disso, há o envelhecimento da profissão, que leva a mais situações de baixa. E a mobilidade por doença não viu o seu regime alterado, o que leva a que muitos professores sejam obrigados a continuar de baixa", prosseguiu Mário Nogueira.
Ministro revela "inépcia completa" para ir à causa do problema
"Prevê-se que este ano haja mais alunos sem professores e mais professores que não são profissionalizados, ou seja, mais alunos vão ter professores que não têm formação pedagógica, o que se traduz num défice do ponto de vista da formação", afirmou Nogueira. Face a estes problemas, os sindicatos apontam o dedo ao ministro da Educação por ter "revelado uma inépcia completa" em atacar a principal causa do problema, que é "a desvalorização que a nossa profissão tem vindo a conhecer e a ausência de medidas para resolver os problemas que desvalorizam a profissão". Desta forma, prevê Mário Nogueira, "os jovens continuam a fugir. Muitos chegam cá, estão meia dúzia de anos precários e vão embora".
"A continuarmos nesta situação os professores inevitavelmente vão ter de lutar. Não fazemos a luta pela luta, mas com objetivos: valorizar a profissão e melhorar as condições de trabalho para que possamos atrair novamente os que abandonar e sobretudo chamar jovens para voltarem a querer ser professores", concluiu.
E a luta prossegue já a partir de hoje, com as greves convocadas por estes sindicatos ao sobretrabalho, às horas extraordinárias e a todas as atividades integradas na componente não-letiva de estabelecimento. No dia 6 de outubro é a vez de uma greve nacional, além de várias iniciativas na primeira semana de outubro para assinalar o Dia do Professor. Por seu lado, o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P) entregou pré-avisos de greve nacional, entre os dias 18 e 22 de setembro, que culminam com uma manifestação em Lisboa no dia 22.