Lutas

Em frente à PSA Sines, trabalhadores fizeram-se ouvir pela reposição de direitos já conquistados

04 de junho 2025 - 16:49

Greve começou a 26 de maio e termina na sexta-feira, mas o sindicato já tem plenários previstos para a próxima semana, para dar continuidade ao processo de luta. Delegado sindical fala em decisões "unilaterais" da empresa.

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PSA Sines
PSA Sines. Fotografia de Esquerda.net.

“A estiva unida jamais será vencida”. É esse o mote que leva os trabalhadores da PSA Sines a reunirem-se em frente à empresa esta quarta-feira, pelas duas da tarde. Desde 26 de maio que os trabalhadores estão em greve às duas últimas horas de cada turno, com adesões que rondam os 90%. Como a greve convocada pelo Sindicato das Indústrias, Energias, Serviços e Águas de Portugal (SIEAP) chega ao fim na próxima sexta-feira, os trabalhadores juntaram-se esta semana para aprovar uma moção a apresentar à empresa e convocar novos plenários de trabalhadores.

Naquele que é o maior terminal de contentores de Portugal, gerido pela PSA Sines, trabalham 1.400 pessoas. A LaborSines é a empresa de trabalho temporário portuário que contrata aqueles trabalhadores, mas, como explica ao Esquerda.net o delegado sindical Filipe Gonçalves, uma empresa é detida pela outra.

“O ano passado a empresa decidiu unilateralmente mudar-nos o horário de trabalho, retirou-nos o direito a escolher férias, retirou-nos o dia de anos e não está aberta a negociações”, diz Filipe. “Temos tido reuniões atrás de reuniões, mas batemos sempre contra uma parede”.

A PSA usa a situação geopolítica como desculpa para não garantir os direitos a estes trabalhadores, falando num momento difícil para a empresa. “Há sempre uma desculpa”, comenta o delegado sindical. “Mas neste momento não estamos a exigir qualquer tipo de valor monetário, estamos a exigir os direitos que conquistámos em 2019”.

As reivindicações são precisamente a reposição dos direitos que já tinham sido garantidos, porque a sua redução é um regresso ao acordo que os trabalhadores tinham em 2015. “Os trabalhadores estão a dizer basta. Não pode ser”, defende.

“Com o horário que impõe no período quente, entre maio e outubro, ao invés de teres dois fins-de-semana por mês, ficas só com um sábado ou um domingo por mês. Isto é cansativo e destrói psicologicamente qualquer trabalhador e não é viável, ao contrário do que a empresa diz”, conclui Filipe Gonçalves.

Bruno Saramago, dirigente do SIEAP, explica que a imposição do horário da empresa vai contra a vontade dos trabalhadores e que o sindicato foi fazendo trabalho ao longo dos últimos 16 meses que levou a uma “vontade intrínseca de fazer esta greve”. Para além desta greve parcial, há também um pré-aviso de greve até dia 31 de dezembro ao trabalho extraordinário.

“A empresa pratica os direitos laborais que lhe apetece”

“A cada reunião que tivemos com a empresa, colocaram diferentes variáveis em cima da mesa. Desde a situação financeira até à situação geopolítica. A empresa tornou-se irredutível na negociação, apresentámos uma proposta aliciante para negociar e disseram que não. Pediram-nos para elaborar uma nova proposta em que só queria a recuperação dos horários, mas a empresa disse que não”, diz Bruno. “É uma mão cheia de nada, como se costuma dizer”.

Sines é um local estratégico para a indústria em Portugal, com muitos projetos de investimento. Mas o dirigente sindical considera que a PSA, que é a maior empregadora na zona industrial de Sines, “não dá o exemplo em relação aos direitos dos trabalhadores e à salubridade dos trabalhadores”.

“A empresa pratica os direitos laborais que lhe apetece, e isso é que é grave”, admite. O que está a acontecer agora, é um exemplo disso, mas o SIEAP mantém-se firme e promete “bater o pé”, tendo sido reunido com o Ministério das Infraestruturas e da Habitação. A maior parte dos trabalhadores da PSA Sines trabalham por turnos, e o sindicato reforça que os horários são a principal reivindicação da empresa, com “custos diminutos para a empresa”.

De facto, José Silva, operador portuário de nível 2, aponta um impacto no tempo de família e num aumento de baixas psicológicas na empresa. “Têm exigido cada vez mais e o pessoal tem dado aquela força porque não tem medo de trabalhar, mas ao mesmo tempo não se pode querer tudo”, diz.

É uma “injustiça geral” com trabalhadores a sair, a ficar de baixa, e a sofrer a nível pessoal. E José critica o facto de a empresa dizer que “está tudo bem” para fora, quando os trabalhadores a nível interno dizem que não está.

“Tiraram-nos o tempo em que podíamos estar com as famílias, que é nestes meses em que estamos com horário de refinaria, que é como quem diz que trabalhamos como numa refinaria”, explica o trabalhador. “O trabalho é muito difícil, e temos de contar com o desgaste mental que há. Passado um tempo começamos a tornar-nos automatizados”.

Em concentração, os trabalhadores aprovaram a sua moção por unanimidade, decidindo exortar a administração sobre a necessidade de estabelecimento de diálogo, exigindo da administração uma postura aberta e comprometida com a negociação e mandatando o SIEAP a adotar todas as medidas necessárias de reivindicação e luta.

Antes de entregarem a moção na sede da empresa, os trabalhadores ainda aproveitaram os últimos momentos para gritar “vocês são uma vergonha” e para pedir “demissão” à administração por não respeitar os direitos dos trabalhadores.