Milhares de pessoas manifestaram-se este domingo pelo país inteiro em solidariedade com as vítimas dos ataques neonazis no Porto e em Lisboa. Sob o lema “Não queremos viver num país do medo”, manifestantes saíram à rua em 13 cidades de Portugal continental e Regiões Autónomas para condenar a violência da extrema-direita.
Em Lisboa, a concentração aconteceu em frente ao teatro A Barraca, onde no passado dia 10 de junho o ator Adérito Lopes foi agredido por um bando de 30 neonazis que ameaçaram os atores da peça “Amor é um fogo que arde sem se ver”. O ator acabou por ter de ser hospitalizado.
“Fascistas, racistas, chegou a vossa hora, os imigrantes ficam e vocês vão embora”, cantou-se. As várias centenas de pessoas que se juntaram ali repudiaram a violência que os neonazis praticaram no Dia de Portugal. Andreia Galvão, uma das organizadoras da ação, sublinhou a “intensificação” da agressão racista e defende que estas manifestações são uma resposta “de solidariedade e normalidade democrática”.
“O país onde essas agressões são normais ainda não é o país onde vivemos e nós faremos o possível para que nunca venha a ser”, disse. “Muitas pessoas da cultura sentiram que os alvos somos todos, os alvos dos neonazis são todas as pessoas e o Estado democrático, e nós ainda queremos lutar por ele”.
A atriz defende o desmantelamento dos grupos neonazis por serem “inconstitucionais” e considera “inconcebível” que Luís Montenegro não tenha feito nenhuma declaração sobre “um ataque à cultura”.
Nas intervenções da concentração em Lisboa participaram a estrutura do Teatro A Barraca, o movimento Vida Justa, o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos, o SOS Racismo e a Plateia, bem como um representante dos imigrantes do Bangladesh, entre outros.
A coordenadora do Bloco de Esquerda também esteve presente na concentração de Lisboa. Mariana Mortágua lembrou que a ameaça da extrema-direita estava presente na versão preliminar do Relatório Anual de Segurança Interna de 2025, num capítulo sobre “Extremismos”, mas que foi apagado da versão final.
“Vejo a esperança ao combate de uma extrema-direita que está cada vez mais confortável nas ruas, e sabemos que está mais confortável porque há um discurso que a legitima no parlamento, porque esse discurso está todos os dias na televisão e porque o primeiro-ministro foi incapaz de condenar estas agressões”, disse a deputada do Bloco de Esquerda. Mariana Mortágua considera ser precisa “uma ação policial e governativa contra estes grupos de extrema-direita”.
Também no dia 10 de junho, duas voluntárias foram atacadas por neonazis no Porto enquanto distribuíam comida. Um dos agressores acabou também por atacar um polícia e acabou por ser detido. A concentração no Porto, na Praça da Batalha, convocou toda a gente para a defesa da democracia.

Participaram na concentração organizações do setor cultural, algumas companhias de teatro históricas da cidade, organizações do movimento feminista, anti-racista e LGBTQI+ e outros coletivos, contando também com várias intervenções, como a de Sara Barros Leitão.
O vereador do Bloco de Esquerda e candidato à Câmara Municipal do Porto, Sérgio Aires, esteve presente na concentração.
Em Braga, Faro, Coimbra, Torres Novas, Almada, Évora, Beja, Odemira, Funchal, Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Lisboa e Porto, os participantes no protesto fizeram as suas vozes serem ouvidas contra os ataques à democracia.