“Não queremos viver num país do medo”: milhares por Portugal inteiro condenam violência neonazi

15 de junho 2025 - 18:08

Manifestação em 13 cidades por todo o país são "resposta de solidariedade" contra ataques de neonazis. Mariana Mortágua fala na "esperança ao combate de uma extrema-direita que está cada vez mais confortável nas ruas".

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Não queremos viver num país do medo
Não queremos viver num país do medo. Fotografia de Tiago Teixeira.

Milhares de pessoas manifestaram-se este domingo pelo país inteiro em solidariedade com as vítimas dos ataques neonazis no Porto e em Lisboa. Sob o lema “Não queremos viver num país do medo”, manifestantes saíram à rua em 13 cidades de Portugal continental e Regiões Autónomas para condenar a violência da extrema-direita.

Em Lisboa, a concentração aconteceu em frente ao teatro A Barraca, onde no passado dia 10 de junho o ator Adérito Lopes foi agredido por um bando de 30 neonazis que ameaçaram os atores da peça “Amor é um fogo que arde sem se ver”. O ator acabou por ter de ser hospitalizado.

“Fascistas, racistas, chegou a vossa hora, os imigrantes ficam e vocês vão embora”, cantou-se. As várias centenas de pessoas que se juntaram ali repudiaram a violência que os neonazis praticaram no Dia de Portugal. Andreia Galvão, uma das organizadoras da ação, sublinhou a “intensificação” da agressão racista e defende que estas manifestações são uma resposta “de solidariedade e normalidade democrática”.

“O país onde essas agressões são normais ainda não é o país onde vivemos e nós faremos o possível para que nunca venha a ser”, disse. “Muitas pessoas da cultura sentiram que os alvos somos todos, os alvos dos neonazis são todas as pessoas e o Estado democrático, e nós ainda queremos lutar por ele”.

A atriz defende o desmantelamento dos grupos neonazis por serem “inconstitucionais” e considera “inconcebível” que Luís Montenegro não tenha feito nenhuma declaração sobre “um ataque à cultura”.

Nas intervenções da concentração em Lisboa participaram a estrutura do Teatro A Barraca, o movimento Vida Justa, o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos, o SOS Racismo e a Plateia, bem como um representante dos imigrantes do Bangladesh, entre outros.

A coordenadora do Bloco de Esquerda também esteve presente na concentração de Lisboa. Mariana Mortágua lembrou que a ameaça da extrema-direita estava presente na versão preliminar do Relatório Anual de Segurança Interna de 2025, num capítulo sobre “Extremismos”, mas que foi apagado da versão final.

“Vejo a esperança ao combate de uma extrema-direita que está cada vez mais confortável nas ruas, e sabemos que está mais confortável porque há um discurso que a legitima no parlamento, porque esse discurso está todos os dias na televisão e porque o primeiro-ministro foi incapaz de condenar estas agressões”, disse a deputada do Bloco de Esquerda. Mariana Mortágua considera ser precisa “uma ação policial e governativa contra estes grupos de extrema-direita”.

Também no dia 10 de junho, duas voluntárias foram atacadas por neonazis no Porto enquanto distribuíam comida. Um dos agressores acabou também por atacar um polícia e acabou por ser detido. A concentração no Porto, na Praça da Batalha, convocou toda a gente para a defesa da democracia.

Não queremos viver no país do medo
Concentração no Porto. Fotografia de Pedro Faria.

Participaram na concentração organizações do setor cultural, algumas companhias de teatro históricas da cidade, organizações do movimento feminista, anti-racista e LGBTQI+ e outros coletivos, contando também com várias intervenções, como a de Sara Barros Leitão.

O vereador do Bloco de Esquerda e candidato à Câmara Municipal do Porto, Sérgio Aires, esteve presente na concentração.

Em Braga, Faro, Coimbra, Torres Novas, Almada, Évora, Beja, Odemira, Funchal, Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Lisboa e Porto, os participantes no protesto fizeram as suas vozes serem ouvidas contra os ataques à democracia.