A cadeia televisiva estadunidense CBS News revelou na sexta-feira ter confirmado junto de duas fontes dos serviços de informações dos EUA ao corrente do processo que foi o próprio Benjamin Netanyahu a dar a ordem para os ataques com drones aos barcos Família Madeira e Alma, nas noites de 8 e 9 de setembro, quando se encontravam ancorados no porto tunisino de Sidi Bou Said.
Global Sumud Flotilla
Porque é que Israel infringiu o direito internacional ao atacar a flotilha
Segundo os dois agentes, que falaram na condição de anonimato por não estarem autorizados a falar publicamente sobre assuntos de segurança nacional, os drones foram lançados por um submarino israelita nas proximidades, atingindo os barcos com bombas incendiárias. O barco Família transportava Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte, mas só este último estava no interior na altera do ataque, ajudando a extinguir rapidamente o incêndio.
A lei humanitária internacional e as leis dos conflitos armados proíbem o uso de bombas incendiárias contra alvos civis. Logo a seguir ao ataque, a máquina de propaganda israelita pôs a circular a versão de que o incêndio teria sido causado acidentalmente pelos próprios ocupantes, uma mentira reproduzida pelos habituais defensores de Netanyahu em Portugal. Apesar das imagens serem suficientes para mostrar a bomba incendiária, o responsável pela polícia naval tunisina chegou mesmo a alvitrar que um cigarro mal apagado estivesse na origem do incêndio, versão retirada pelo seu governo no dia seguinte.
“Fomos postas numa jaula para o ministro vir fazer propaganda”. Mariana Mortágua e Sofia Aparício denunciam falta de acesso a água na prisão
Detidos ilegalmente em águas internacionais e levados para uma prisão no deserto do Negev, as centenas de ativistas da flotilha humanitária preparam-se para regressar aos seus países. Uma parte concordou em ser deportada de forma expedita, enquanto outros optaram por ser ouvidos em tribunal, adiando o seu próprio regresso.
Os quatro portugueses da flotilha - aos três que partiram de Barcelona juntou-se também Daniel Chaves na delegação neerlandesa que partiu mais tarde da Sicília - farão parte do grupo que será deportado mais rapidamente, prevendo-se o regresso durante a próxima semana.
Em mensagens entregues na sexta-feira aos diplomatas portugueses na prisão, Mariana Mortágua afirmou que nas últimas 48 horas não tiveram acesso a água potável nem comida. Também Sofia Aparício escreveu uma mensagem onde diz: “Não nos tratam bem. Nem água nos deram. Para comer só pimentos crus com iogurte”.
“Fomos postas numa jaula para o ministro dos Negócios Estrangeiros desta terra vir ser filmado como propaganda”, denuncia a atriz. Por seu lado, Mariana Mortágua dizia na sua mensagem que “não fui ainda parar à solitária” e pedia para serem convocadas manifestações.
Os relatos das portuguesas são consistentes com a de outros detidos. A ativista sueca Greta Thunberg queixa-se também da falta de acesso a água e comida e de ter sido posta numa cela infestada por percevejos. Um dos ativistas turcos já libertados, Yasin Benjelloyn, disse que só teve acesso a água após estar detido há 32 horas. “Éramos acordados às 3 da manhã com cães e atiradores a entrarem nas nossas celas, cortavam-nos de duas em duas horas para nos impedir de dormir. Se nos fazem isto a nós, civis inocentes só podemos imaginar o que fazem aos palestinianos”, prosseguiu.
Outro dos ativistas turcos libertados, Ersin Celik, afirmou aos jornalistas que viu Greta Thunberg ser arrastada pelos militares e obrigada a beijar uma bandeira israelita.
⛵️ 🇵🇸Turkish activist and Sumud Flotilla participant Ersin Celik:
— They tortured Greta very severely. Right before our eyes.
— They persecuted Greta. Greta is just a little child.
— They made her crawl
— They forced her to kiss the Israeli flag. In other words, they did… pic.twitter.com/EsqAjh8oHG— Anadolu English (@anadoluagency) October 4, 2025