Flotilha

Ordem para atacar barco português veio de Netanyahu, confirma imprensa dos EUA

04 de outubro 2025 - 16:43

Fontes dos serviços de informações dos EUA confirmaram à CBS que foi o primeiro-ministro israelita a dar a ordem para atacar com drones os barcos Família e Alma quando estavam ancorados ao largo da Tunísia. Sem acesso a água, Mariana Mortágua e Sofia Aparício mandaram mensagens da prisão.

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Ataque ao navio Família
Ataque ao navio Família

A cadeia televisiva estadunidense CBS News revelou na sexta-feira ter confirmado junto de duas fontes dos serviços de informações dos EUA ao corrente do processo que foi o próprio Benjamin Netanyahu a dar a ordem para os ataques com drones aos barcos Família Madeira e Alma, nas noites de 8 e 9 de setembro, quando se encontravam ancorados no porto tunisino de Sidi Bou Said.

Segundo os dois agentes, que falaram na condição de anonimato por não estarem autorizados a falar publicamente sobre assuntos de segurança nacional, os drones foram lançados por um submarino israelita nas proximidades, atingindo os barcos com bombas incendiárias. O barco Família transportava Mariana Mortágua, Sofia Aparício e Miguel Duarte, mas só este último estava no interior na altera do ataque, ajudando a extinguir rapidamente o incêndio.

A lei humanitária internacional e as leis dos conflitos armados proíbem o uso de bombas incendiárias contra alvos civis. Logo a seguir ao ataque, a máquina de propaganda israelita pôs a circular a versão de que o incêndio teria sido causado acidentalmente pelos próprios ocupantes, uma mentira reproduzida pelos habituais defensores de Netanyahu em Portugal. Apesar das imagens serem suficientes para mostrar a bomba incendiária, o responsável pela polícia naval tunisina chegou mesmo a alvitrar que um cigarro mal apagado estivesse na origem do incêndio, versão retirada pelo seu governo no dia seguinte.

“Fomos postas numa jaula para o ministro vir fazer propaganda”. Mariana Mortágua e Sofia Aparício denunciam falta de acesso a água na prisão

Detidos ilegalmente em águas internacionais e levados para uma prisão no deserto do Negev, as centenas de ativistas da flotilha humanitária preparam-se para regressar aos seus países. Uma parte concordou em ser deportada de forma expedita, enquanto outros optaram por ser ouvidos em tribunal, adiando o seu próprio regresso.

Os quatro portugueses da flotilha - aos três que partiram de Barcelona juntou-se também Daniel Chaves na delegação neerlandesa que partiu mais tarde da Sicília - farão parte do grupo que será deportado mais rapidamente, prevendo-se o regresso durante a próxima semana.

Em mensagens entregues na sexta-feira aos diplomatas portugueses na prisão, Mariana Mortágua afirmou que nas últimas 48 horas não tiveram acesso a água potável nem comida. Também Sofia Aparício escreveu uma mensagem onde diz: “Não nos tratam bem. Nem água nos deram. Para comer só pimentos crus com iogurte”.

“Fomos postas numa jaula para o ministro dos Negócios Estrangeiros desta terra vir ser filmado como propaganda”, denuncia a atriz. Por seu lado, Mariana Mortágua dizia na sua mensagem que “não fui ainda parar à solitária” e pedia para serem convocadas manifestações.

Os relatos das portuguesas são consistentes com a de outros detidos. A ativista sueca Greta Thunberg queixa-se também da falta de acesso a água e comida e de ter sido posta numa cela infestada por percevejos. Um dos ativistas turcos já libertados, Yasin Benjelloyn, disse que só teve acesso a água após estar detido há 32 horas. “Éramos acordados às 3 da manhã com cães e atiradores a entrarem nas nossas celas, cortavam-nos de duas em duas horas para nos impedir de dormir. Se nos fazem isto a nós, civis inocentes só podemos imaginar o que fazem aos palestinianos”, prosseguiu. 

Outro dos ativistas turcos libertados, Ersin Celik, afirmou aos jornalistas que viu Greta Thunberg ser arrastada pelos militares e obrigada a beijar uma bandeira israelita.