A operação de venda do TikTok US, a empresa que controla as operações da rede social nos EUA, conheceu nos últimos dias desenvolvimentos. A venda da maioria do capital por parte da empresa chinesa ByteDance foi uma condição imposta pela administração dos EUA, justificada com razões de segurança nacional para evitar que os dados dos utilizadores estadunidenses fossem armazenados na China.
“[a TikTok US] será maioritariamente detida e controlada por entidades dos Estados Unidos e deixará de ser controlada por qualquer adversário estrangeiro”, anunciou Donald Trump após assinar uma ordem executiva que dá luz verde ao negócio para separar a operação do TikTok nos EUA da casa-mãe chinesa num prazo de 120 dias. O negócio foi tema de conversações nos encontros entre Trump e Xi Jinping e o presidente dos EUA diz que o homólogo chinês o mandou “ir em frente” com o negócio que reduz a participação da ByteDance a 20% do capital.
Mas um dos grandes investidores convidados por Trump para o negócio, com uma fatia de 15% da empresa, não é uma entidade dos EUA. Trata-se do fundo MGX, da família real de Abu Dhabi, e que não é estranho à família do Presidente. Criado no ano passado pelo fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, o MGX foi notícia em maio por um negócio com a maior plataforma de criptomoedas do mundo, a Binance, avaliado em dois mil milhões de dólares e usando uma das criptomoedas da World Liberty Financial, a empresa da família Trump no ramo das criptomoedas. Segundo o New York Times, é como se o fundo depositasse aquela quantia na empresa fundada por membros da família Trump, representada pelo filho do Presidente Eric Trump, e da família Witkoff, representada por Zach, o filho do enviado de Trump ao Médio Oriente Steve Witkoff.
No seu trabalho diplomático, Steve Witkoff reuniu várias vezes com o Xeque Tahnoon e segundo o New York Times passaram de aliados a parceiros de negócios. A possível relação do negócio das criptomoedas com o que permitiu aos Emirados importar chips fabricados nos EUA desenhados para inteligência artificial, passando por cima das preocupações de segurança evocadas por responsáveis da Casa Branca, levou os Democratas a pedir um inquérito sobre violação das regras éticas por parte dos responsáveis.
Quem são os outros acionistas apoiantes de Trump?
O maior acionista do TikTok nos EUA passará a ser o bilionário Larry Ellison, o bilionário dono da Oracle e apoiante de Trump que tem alternado nas ultimas semanas com Elon Musk na posição de homem mais rico do mundo graças à subida do preço das ações da empresa de servidores - que alojam também o TikTok nos EUA - e à sua aposta na inteligência artificial em parceria com a Nvidia e a Open AI, num negócio recém anunciado e estimado em 100 mil milhões de dólares.
Aos 81 anos, Larry Ellison é apelidado por conselheiros de Trump como o “presidente-sombra”, movendo influências mais discretamente que Musk, entretanto desavindo com Trump. Criou uma dinastia que se estende aos media, com o filho David a liderar a fusão da sua Skydance com a Paramount e com olhos postos na aquisição da Warner Bros. Discovery, que lhe abrira as portas das redes televisivas CBS e CNN.
A par de Ellison, Trump chamou para o negócio do TikTok outros aliados, como o magnata dos media Rupert Murdoch, o líder da empresa de computadores Dell, Michael Dell, a par dos fundos do Vale do Silício Silver Lake e Andressen Horowitz. “São grandes investidores. Os maiores”, gabou-se Trump na mesma declaração aos jornalistas em que estes lhe perguntaram se o algoritmo da plataforma usada por 180 milhões de pessoas nos EUA iria dar prioridade ao conteúdo MAGA. “Se eu pudesse, seria 100% conteúdo MAGA”, brincou Trump.
Apesar do tom de brincadeira, as palavras de Trump causaram calafrios aos defensores dos direitos digitais que temem uma deriva semelhante à do algoritmo do Twitter quando foi tomado por Elon Musk. Mesmo antes das declarações do Presidente dos EUA, a Electronic Frontier Foundation alertava que se antes a preocupação era a manipulação do algoritmo pelas autoridades chinesas, agora passou a ser “a possibilidade de o TikTok ser um canal de propaganda do governo dos EUA”, após responsáveis governamentais terem dito que “o novo algoritmo do TikTok será «retreinado» com dados dos EUA para garantir que o sistema esteja «a comportar-se corretamente»”.