A CGTP-Intersindical reúne o seu XV Congresso a 23 e 24 de fevereiro no Seixal, os últimos dias antes do início oficial da campanha eleitoral. Sem surpresa, o momento político atual e as escolhas para o as políticas a seguir após 10 de março serão os temas dominantes nas preocupações dos congressistas, com o programa de ação proposto a exigir "uma política alternativa que enfrente os interesses dos grandes grupos económicos e que rompa com o caminho de favorecimento desses mesmos interesses, que tem sido seguido pelo PS, com o apoio do PSD, CDS, CH e IL".
O reforço da organização sindical e da ação reivindicativa nos locais de trabalho, a luta pela criação de empregos com direitos, salários dignos e horários regulados, a defesa dos serviços públicos e do sistema público da Segurança Social são alguns dos objetivos propostos no programa de ação a aprovar no Seixal.
O Congresso ficará ainda marcado pela saída de Isabel Camarinha do cargo de secretária-geral, dado que a regra do limite de idade não lhe permitirá cumprir outro mandato na direção. O mesmo acontecerá a outros sindicalistas com assento na Comissão Executiva, como Mário Nogueira (líder da Fenprof - Federação Nacional dos Professores), Libério Domingues (ex-coordenador da União de Sindicatos de Lisboa), José Manuel Oliveira (coordenador da Fectrans - Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações) ou Vivalda Silva (dirigente do STAD - Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas).
Em entrevista a agência Lusa, Isabel Camarinha fez o balanço de um mandato que teve "algumas características diferentes de qualquer outro". Eleita um mês antes de ser declarada a pandemia de covid-19, que trouxe os lay-offs, cortes salariais e o teletrabalho, mas também "a tentativa de que não houvesse liberdade sindical" na altura em que os trabalhadores mais precisavam.
Seguiu-se a guerra na Ucrânia e o aumento da inflação e perda do poder de compra, a par de duas dissoluções da Assembleia da República e o "continuar desta degradação das condições de vida e de trabalho, a falta de resposta aos problemas dos trabalhadores, nomeadamente a questão dos salários, da precariedade, dos horários de trabalho, do difícil que está ser ter a garantia das necessidades básicas como a saúde, a educação, insuficiente proteção social, portanto, há um conjunto de problemas que se agravaram" nestes quatro anos, resume a sindicalista que foi a primeira mulher a ocupar a liderança da CGTP em meio século de história.
Sobre o futuro, Isabel Camarinha responde que "estou ainda a ver o que é que vou fazer a seguir, mas uma coisa é certa, vou continuar a trabalhar, a ser dirigente sindical" no CESP, cargo que ocupa desde 1991.
No plano interno, o mandato da atual direção foi alvo de algumas críticas por parte de membros do Conselho Nacional pela falta de democracia interna. Por exemplo, “nenhuma resolução política alternativa foi sequer distribuída ou colocada à votação no conselho nacional” e houve reuniões em que essa falta de condições de participação levou ao abandono de conselheiros de várias sensibilidades políticas. O ponto alto das divergências ocorreu a propósito da posição da central em relação à invasão russa da Ucrânia, com oito sindicatos a demarcarem-se publicamente da posição oficial, acusando-a de representar "um desvio da linha histórica".
Para o próximo mandato à frente da central, a Comissão Executiva da CGTP decidiu na segunda-feira "sugerir" aos futuros conselheiros nacionais o nome de Tiago Oliveira, o coordenador da União de Sindicatos do Porto desde 2016. Aos 43 anos, é dirigente sindical desde 2006, mecânico de profissão e membro do Comité Central do PCP. Segundo o Público, nas comemorações do 1º de Maio no Porto, discursou contra as alterações laborais da Agenda do Trabalho Digno, acusando o documento de “perpetuar a precariedade e a caducidade da contratação coletiva".
Na despedida, Isabel Camarinha disse à Lusa esperar "uma grande participação" nas eleições legislativas e que delas saia um resultado que garanta uma "alteração da relação de forças na Assembleia da República" com vista "a uma melhoria das condições" de vida dos trabalhadores portugueses e também dos imigrantes. Elogiando os "avanços" conseguidos entre 2015 e 2019, diz que eles aconteceram "porque o PS estava em minoria, não tinha maioria na Assembleia da República e a luta dos trabalhadores e os partidos à sua esquerda, com a pressão que fizeram, conseguiram alguns avanços, não os suficientes, mas conseguiram alguns".
"É preciso que os trabalhadores ganhem consciência da importância do seu voto e de que o seu voto é igual ao do patrão", apelou a líder da CGTP.